domingo, 5 de outubro de 2008








Maldita crise financeira

* Uma «explicação» do que começou nos EUA e chegou a todo o Mundo

Uma vez
, num lugarejo, apareceu um homem anunciando aos aldeões que compraria macacos por 10,00 Euros cada. Os habitantes, sabendo que havia muitos na região, foram à floresta e iniciaram a caça aos monos. O homem comprou centenas de macacos a 10,00 Euros e então os aldeões diminuíram o seu esforço na caça. Perante isso, o homem anunciou que agora pagaria 20,00 Euros por cada primata e os aldeões, face à nova proposta, recobraram forças e foram novamente para a mata para capturarem mais.



Naturalmente, por muitos que fossem, os animais começaram a escassear cada vez mais e os aldeões foram desistindo da busca. O cidadão, porém, aumentou a sua oferta para 25,00 Euros. Consequência: a quantidade dos bichos ficou tão pequena que já desaparecera o interesse na caça. O sujeito anunciou então que agora compraria cada macaco por 50,00 Euros. Mas que, entretanto, como iria à cidade grande, deixaria o seu auxiliar cuidando da compra dos macacos.

Na ausência do patrão, o assistente disse aos aldeões: «Já viram bem nas jaulas quantos animais o meu senhor comprou? Já se deram conta disso? Já fizeram as contas? Olhem, amigos, eu posso vender-vos os macacos por 35,00 Euros cada e, quando o cavalheiro voltar da cidade, vocês conseguem vender-lhos por 50,00Euros cada. A proposta foi dele.

Os locais, que se consideravam sempre espertalhoníssimos, pegaram nas suas economias e compraram todos os macacos ao adjunto. Resultado: eles nunca mais viram o homem ou o seu companheiro, que se tinham eclipsado. Restavam, somente, macacos por todos os lados...

Meus caros,
Tendo em conta a crise financeira mundial (que, como sabem, começou nos States mas já vai por aí fora, com Plano Paulson ou sem), julguei por bem dar-vos algumas dicas técnicas para que melhor a tentem compreender. Este é (sic) o teor de um imeile que ontem mesmo, o meu primogénito Miguel Antunes Ferreira – que é economista – me mandou. E que, julgo, corre pela blogosfera. Deste modo, limito-me a publicá-lo aqui, ainda que com pequenas alterações de forma, assim como o vou passar também por correio informático aos amigões. Um pedido: por favor, leiam até ao fim. É imprescindível que o façam.


Agora, penso que já começam a perceber como funciona o famigerado «mercado», que os financeiros tanto vêm utilizando como explicação – e justificação – para tudo o que acontecia. E ao qual, era incontornável obedecer.

O capitalismo, as direitas e outros endeusavam-no. O comunismo (?), as esquerdas mais à… esquerda e outros ainda, apostrofavam-no. Mas, o «mercado», impávido e sereno, tudo continuava a dominar impiedosamente. Desdenhoso. Nem ligava.

Nisto, surgiu o verdadeiro tsunami financeiro a que estamos a assistir e do qual também estamos a sofrer. Todos. Se havia dúvidas sobre a globalização, elas caíram com esta catástrofe de cifrões que se espalhou e vai continuar a disseminar por este mísero planeta azul. Fala-se numa nova ordem económica mundial que, na consequência dela, se terá de construir. Tem de se esperar (sentado...) – para ver. Mas, que a demora não seja muita. Se não, a Terra ficará fora do prazo de validade. Para lá caminha…
A.F.

sábado, 4 de outubro de 2008



Cinco de Outubro

Tantos RRR

Antunes Ferreira
O avô
Reinaldo tinha estado na Rotunda. O que não parecia de modo nenhum entusiasmante, muito menos motivo para aplausos. Quantos cidadãos o tinham feito? Milhentos. Mas, aqui, um pormenor. O homem (na altura ainda um rapazote) tinha estado na Rotunda de 4 para 5 de Outubro de 1910. Assim é que estava correcto. E ele e mais umas poucas centenas de militares e civis comandados pelo Machado dos Santos, decididos a vender cara a vida, ainda que não soubessem muito bem porquê. E para quê? Mas, soltavam vivas constantes à República.


O avô Reinaldo era carbonário. Ou melhor, era um gaiato que tinha a mania de ser membro da sociedade secreta (?), tinha 16 anos espigadotes e esforçava-se desalmadamente por exibir um bigode – que ainda não surdia. Uns pelos salteados por cima dos beiços, outros semeados por mão incerta pela cara magra e ossuda. Em casa, herdara Rogério do pai Raul uma gravura amarelecida que se dizia era do avô quando jovem.

Nisto de fotografias, sabe-se lá. Pois se até nas estátuas… Vai-se a ver e o fulano que está plantado no Rossio e que dizem que é o D. Pedro IV, afinal não é. Imbróglio? Verdade, verdadinha, o senhor que está lá no cimo do pedestal, há uma porrada de anos que está a fingir que é – e não é. Por miúdos: não era. Mas, depois, foi e agora é.

Rogério está no café sobrevivente da praça, o Nicola, mais precisamente na esplanada. Acabara de ler a bíblia benfiquista, entenda-se, A Bola, e esvaziara a chávena da bica. Por que raios bica? O pai explicara-lhe que fora um senhor dono da Brasileira que decidira incentivar os clientes a beber café. Mas, a mistela era amarga. Muitos torciam-lhe o nariz.

O pai Raul pormenorizara que o tal cavalheiro pusera – ou mandara pôr – em cada mesa um letreiro que rezava BEBA ISTO COM AÇÚCAR. Está-se mesmo a ver, não está-se. BICA. Devaneia, como habitualmente. O gajo que lá está em cima era para ser o Imperador Maximiliano do México. Mas não fora. As más línguas, pelo menos, asseveram que quando a estátua chegara a Lisboa e enquanto esperava por embarque para o seu destino final, o monarca tivera também o seu destino final, porque fatal. Tinha sido assassinado.


No País da tequila a estátua já não interessava a ninguém. Pelo contrário, seria só despesa. O frete marítimo – caro. E, depois do golpe, não havia caballero que a quisesse. Donde, quedara-se pelo cais, abandonada, o bronze a caminho da sucata. Como tal fora comprado pela Câmara lisboeta que decidira que servia muito bem para Pedro IV, até tinha na mão uma carta que todos jurariam a pés juntos que era a constitucional que o rei liberal se vira obrigado a outorgar. E, lá no alto, nem com binóculos, não se distingia entre o mexicano e o luso. De resto, ambos imperadores.

Reinaldo, Raul, Rogério, tudo nomes começados por R, de República. Rogério consulta o relógio, quase uma da tarde. Cronómetro de pilha, chinezíssimo, mesmo assim obra asseada, oferta da mulher, Regina. Outro R. Tem de ir andando, apanhar o Metro para Odivelas, é lá que está o T3, andar comprado em regime de cooperativa no princípio dos oitentas. Agora, reformado, vem de manhã até ao Rossio, jornal, bica e regresso ao lar. E nada de muitos atrasos, Regina não brinca em serviço.

Pois hoje é o 5 de Outubro deste ano. Daí o recordar o avô Reinaldo, a Rotunda, a Revolução, a República. RRR a dar por um pau. Às vezes, raras, ia ao António José de Almeida, garantidamente a estátua dele era mesmo dele. No tempo da outra senhora, havia por lá sempre sarrabulho. Coisas, feitios, polícias. Estado Novo, bastonada, correrias até à Avenida da... República.

Hoje volta a penates sem glória nem comemoração, estátua só a falsa do largo D. Pedro IV. Como Judas Iscariotes, sem trinta dinheiros, mas disso não precisa ela, não tem gastos, nem família, nem paga IRS. E o subprime não a incomoda, muito menos o plano do tal Paulsen, lá pelos Estados Unidos, imperialistas no dizer do pai Raul e dele próprio, Rogério. Aliás, praça com tal nome poucos a conhecem.

É o Rossio que, o Marquês de Pombal, (na escola levara umas fartas palmatoadas por dizer do. Do, só os pombos e as pombas, dizia a dona Ofélia, patroa e utente da menina dos cinco olhos) mandara baptizar como dos Chapeleiros, pois obrigara toda a colectividade dos feltro, palhinhas e afins a mudar-se para lá. Democrata, o Sebastião José de Carvalho e Melo. Na Rotunda que é só estação de Metro, lá em cima é Marquês do, isto é, de Pombal. Mandada construir com dinheiros de peditório público, iniciativa longa do Diário de Notícias. Que, como não chegara para o mármore, quedara-se pelo lioz.

No Metro consegue lugar sentado, a linha amarela é muito traiçoeira, como as de outras cores, mas há momentos de sorte. Na sua frente vai uma velhota – ele, Rogério, só tem quase setenta – de idade indefinida, tricotando placidamente. Coisa bonita de se ver, as agulhas certinhas com as mãos, complementos destas, extensões sem músculos, mas nervosas.


Ela pergunta-lhe as horas, e já agora, quantos são hoje. Cinco. Cinco de Outubro, minha senhora. Nem me apercebera, diz ela. Foi o dia em que o Relvas proclamou a República, nos Paços do Concelho. Relvas? Outro R, pensa Rogério em voz alta. Curioso.


O nosso «Magalhães»

Antunes Ferreira
O projecto «Magalhães» está a avançar de forma realmente impressionante e com uma velocidade sem paralelo num país como Portugal, onde a lentidão é recorrente, de tão repetida. Já vejo, daqui o protesto em alta grita de todos aqueles que, em coro consonântico, atacaram o computador para novos e velhos, porque o primeiro-ministro, como era seu hábito, mentira aos cidadãos. Uma vez mais, entre tantas que já eram incontáveis.

Leit motiv: o portátil azul não era coisíssima nenhuma português, era apenas montado, ou as peças dele eram apenas assambladas (neologismo que lá no fundo quer servir para disfarçar o corriqueiro juntas) na tal firma JP Sá Couto, que, afinal, nem era conhecida, seria um fantoche manobrado dos bastidores pela propaganda governamental.

Ninguém desses acérrimos críticos, na sua sanha destruidora, se deu sequer ao trabalho de dizer que, mesmo com isso tudo, os portáteis iriam mesmo ser entregues gratuitamente ou quase a quem fossem os seus destinatários, de acordo com as posses destes. Também fizeram o mais escrupuloso silêncio sobre os preços da comercialização e a receptividade dos consumidores.

É que isso não era (e não continua a ser) notícia. Não tinha sangue, não tinha sexo, não tinha crime, logo não tinha público, nem entusiasmava quem se batesse – e de que maneira – pelo share. Lembro uma afirmação que eu próprio ouvi na Faculdade de Comunicação e Jornalismo Casper Libero em São Paulo pela boca do professor Du Maria, e que, depois se transformou em símbolo. A notícia é o homem morder o cão e não o cão morder o homem…




Ora bem. Escreveu o Diário Iol: «Três anos depois de Bill Gates ter estado em Portugal para assinar um memorando de entendimento com o Governo, tendo em vista parcerias em várias áreas, a Microsoft regressou, agora com o novo presidente, Steve Ballmer, para ampliar as parcerias e anunciar o envolvimento total no projecto “Magalhães”».

E, ainda, «O CEO da gigante informática foi o mais entusiasta na avaliação aos pequenos computadores produzidos pela JP Sá Couto: “Este é um projecto incrível, que nem consigo descrever. Sentimo-nos muito satisfeitos e honrados por nos juntarmos ao Governo Português e outros parceiros na Iniciativa Magalhães, já que trabalhamos juntos para tornar a tecnologia mais relevante, acessível e económica para estudantes em Portugal e em todo o mundo. Penso que o Magalhães pode servir de exemplo para outros países”».

A Venezuela deu o pontapé de saída e a Argentina deverá ser o segundo interessado na compra do portátil. A Bélgica, o Luxemburgo e o Brasil já estão, igualmente, na poole position. Em termos de receitas que resultarão da exportação, pode prever-se que o computador ajude a equilibrar relações muito… desequilibradas para Portugal.

É óbvio que José Sócrates também se entusiasmou durante o evento, tendo falado em aventura, por isso fora tão bem aplicada a denominação Magalhães, o navegador que partira à aventura e que acabara por dar a volta ao Mundo. Que sublinhou que «o “Magalhães” não é uma estrela que caiu do céu, mas o resultado de um movimento de modernização que atravessa toda a sociedade portuguesa».


É este, sobretudo, o registo que hoje aqui queria deixar. Antevejo já os comentários que surjam chamando-me situacionista, socratodependente, bajulador e quejandos. Não me preocupam – nem me antecipam o sentimento da culpa. Nunca fui propagandista, não sou, nem serei. Quando escrevo tento ser isento. É hábito e prática que já usava nos tempos salazarentos. Que me causaram muitos dissabores e bastantes incómodos, para não dizer pior, por parte da ignóbil Censura e da miserável PIDE. E muito menos o primeiro-ministro me indicou para seu defensor, ainda que oficioso…

Pessoalmente, estou muito satisfeito – nem sempre com Sócrates – mas com o «Magalhães». Que, parece afinal, que tem «qualquer coisa portuguesa». O nome é – e não nos envergonha.

(Também publicado em http://www.sorumbatico.blogspot.com/)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008




CONCURSO

Medir um livro


Relembro que termina, às 24:00 de hoje, o prazo para responder no concurso «Medir um livro» - como sempre uma iniciativa do www.sorumbatico.blogspot.com e do www.travessadoferreiro.blogspot.com.
Que é o antecessor deste actual. O anterior ficará «definitivelmente» morto por ter falecido total e absolutamente em terrível desastre provocado pelo Gmail e da exclusiva culpa deste safardana e ignóbil gajo da internet. R.I.P.

Os resultados e os prémios já serão, portanto, postados neste
www.travessadoferreira5-2.blogspot.com
Já está a caminho o novo, obviamente publicado neste recem-nascido. Dentro em muito pouco, haverá novidades. Entretanto, espero continuar a tê-los como visitantes, comentadores, concorrentes e outros que tais aqui mesmo. Espero? Não. ORDENO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Antunes Ferreira

terça-feira, 30 de setembro de 2008



O padre

a freira

e o cobertor

Antunes Ferreira
O padre
capelão Francisco e a irmã Manuela do Coração do Senhor regressavam ao convento, depois de terem participado numa cerimónia dedicada à Senhora da Agrela. Era uma prática desde sempre seguida no mosteiro. Desta feita, o sacerdote era um rapaz ainda novo e desempenado, que viera substituir o anterior, vítima de enfarte e a monja desempenhava as funções de ecónoma, e tinha quase quarenta anitos, mas nada de murcho.

Ao cair da noite, avistaram uma cabana a meio do caminho, e decidiram
entrar para pernoitar e prosseguir a viagem no dia seguinte. Ao entrarem, viram que na sala havia uma mesa e quatro cadeiras e um pequeno armário para a loiça. Duas divisões, sendo que a outra era o quarto, onde se encontrava apenas uma cama de casal. O cura e a freira entreolharam-se e, depois de alguns segundos de silêncio, ele disse: «A minha Irmã, pode usar o leito que eu durmo aqui no chão.»

E assim fizeram. No entanto, a meio da madrugada a irmã acordou o
companheiro de quarto, mas não de cama. «Senhor padre, está acordado?» O pobre, bêbado de sono: «Hã?! O quê? Ó irmã, diga. O que foi?» «Ah... é que eu estou com frio. Pode ir buscar-me um cobertor?» «Sim, sóror, com certeza.» O clérigo levantou-se, foi buscar uma manta a uma cómoda e cobriu a freira cuidadosa e suavemente.



Uma hora depois, a irmã acordou o eclesiástico novamente: «Senhor padre! Ainda está acordado?» «Como? Irmã... O que foi agora?» «É que ainda estou com frio. Pode dar-me outro cobertor?» «Claro minha irmã, sem dúvida.» Mais uma vez, o padre levantou-se cheio de amor e boa vontade para atender o pedido da irmã. Aconchegou-lhe a manta e voltou a deitar-se no chão.

Outra hora passou e, mais uma vez, a irmã chamou: «Senhor padre. Deus nosso Senhor queira que o tenha acordado uma vez mais. Estou a incomodá-lo continuamente. Desculpe, mas…» «Sim irmã Manuela! Olhe lá: não consegue dormir?...» «Não, senhor padre, não consigo. É este terrível frio que sinto…»

Finalmente, o presbítero entendeu as intenções da monja, e então disse: «Minha irmã, só estamos aqui nós os dois, certo?» «Correcto.» «O que acontecer neste quarto, ou deixar de acontecer, só nós saberemos e mais ninguém, estou certo?» «Certíssimo!» «Então, minha irmã, tenho uma sugestão... Que tal se fingirmos ser marido e mulher?»




A religiosa quase deu um pulo de alegria na cama, soergueu-se, a camisa de noite caiu, pondo à mostra um peito perfeito, seios ainda bem empinados, aureolas sobre o escuro e exclamou: «Sim, Chico, sim amor…Siiiiiiiiim!» Então o padre mudou o tom de voz e gritou: «Então, Nelinha, porra! Levanta-te e vai buscar a merda do cobertor!!!!!»!

(Ainda pensei não assinar isto. Mas, depois, decidi-me. O Amigão que é o Zé Magalhães Pequito merece-o. E também ele merece que aqui fique registado o seu nome. Foi ele que me enviou a estória, que eu enfarpelei com mais ou menos cuidado e pouca habilidade, como quase sempre. Um abração, Zé Jaquim. Venham mais destas).

segunda-feira, 29 de setembro de 2008


MUITO BEM-VINDOS AO MEU NOVO BLOGUE

Não vale a pena pensar mais naquilo que eu perdi - e perdi, pelo menos, 850 endereços e o meu velho Travessa do Ferreira - e sejam muito bem-vindos a este novo
www.travessadoferreira5-2.blogspot.com

Espero que continuem as vossas visitas. Serão sempre bem tratados, como o foram no anterior. E vão ter aqui o mesmo espaço, a mesma ideia, as mesmas intenções, a mesma vontade de fazer coisas - se possível, reforçadas. Muito obrigado.
Antunes Ferreira